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  • 7 de set. de 2020

    Armas de fogo para quê? Somos pela paz

     Armas de fogo para quê? Somos pela paz



    Jorge Hessen 
    Brasília - DF 

    Um encontro entre jovens, em um condomínio de luxo de Cuiabá, se tornou uma tragédia no dia 12 de julho de 2020. Naquela tarde, como fazia com frequência, Isabele Guimarães, de 14 anos, foi à casa das amigas. Horas depois, a jovem foi morta com um tiro no rosto. A autora do disparo Laura, também de 14 anos, relatou à polícia que atirou de modo acidental em Isabele.

    A adolescente afirmou que se desequilibrou, enquanto segurava duas armas, e disparou. A família da Isabele não acredita nessa versão. Laura praticava tiro esportivo desde o fim de 2019. Ela participou de duas competições e venceu uma delas. (1)

    Hoje em dia , adolescentes como Laura podem praticar tiro esportivo sem precisar de autorização judicial, graças ao decreto assinado pelo atual presidente do Brasil. A família de Laura, a homicida, integra uma categoria que tem crescido no país, sobretudo durante o atual governo brasileiro: os CACs, aqueles que se declaram colecionadores de armas, atiradores desportivos ou caçadores.

    O caso nos fez rememorar o fatídico plebiscito ocorrido no Brasil há 15 anos sobre a proibição da comercialização de armas de fogo e munições. A implicação de tal pleito culminou em não permitir que o artigo 35 do Estatuto do Desarmamento (Lei 10826, de 23 de dezembro de 2003) entrasse em vigor. Lamentavelmente a maioria da população brasileira apoiou a comercialização de armas de fogo, quando detinha o poder de decidir pela pelo seu impedimento.

    É flagrante que o resultado do plebiscito revelou a controvertida índole moral da maioria dos meus conterrâneos, contrariando naquela conjuntura um levantamento realizado pelo Instituto Brasmarket, a pedido do jornal Diário do Grande ABC, demonstrando que 81,6% da população da região do ABC de São Paulo estava contra a comercialização de arma.

    É por essas e outras razões que o Espírito André Luiz nos aconselha “afastar-nos do uso de armas homicidas, bem como do hábito de menosprezar o tempo com defesas pessoais, seja qual for o processo em que se exprimam. Pois o servidor fiel da Doutrina possui, na consciência tranquila, a fortaleza inatacável.”(2) É categoricamente falsa a segurança oferecida pelas armas no ambiente doméstico, por exemplo, considerando o potencial de alto risco do uso da arma “acidentalmente” , que podem causar efeitos danosos irreparáveis na vida familiar.

    O elevadíssimo investimento de recursos econômicos em armamentos é completamente inútil e desnecessário. Por outro lado, o desarmamento geral será uma prática de eficiência administrativa sem prejuízo social algum, pois haverá desinteresse em conflitos internos e externos devido à possibilidade da convivência amigável em comunidade local ou global, implementado inclusive pela competitividade saudável no trabalho, mas com respeito ao semelhante.

    As leis e a ordem impostas à sociedade como resposta à exigência coletiva são bem-vindas e necessárias, porém, melhor será quando todos souberem amar e fazer ao próximo o que desejaria que lhe fizessem, respeitando-lhe seus direitos, sobretudo o mais fundamental como o direito à vida.

    Não obstante exista no Brasil milhares de centros espíritas, infelizmente ainda lideramos a lista mundial em casos de mortes produzidas com a utilização de armas de fogo. Apesar disso, cremos que nesse contexto o Espiritismo é e sempre será o instrumento por excelência decisivo na transformação pela pacificação social.


    Referências bibliográficas: 

    (1) Disponível em https://br.noticias.yahoo.com/tiro-em-banheiro-e-amizade-002555064.html acesso 06/09/2020 

    (2) VIEIRA, Waldo. Conduta Espírita, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2003, cap. 18.

    4 de set. de 2020

    O choro como válvula de escape da aflição

     O choro como válvula de escape da aflição 

    Jorge Hessen 
    jorgehessen@gmail.com 
    Brasília - DF 

    O choro pode durar a noite inteira, mas de manhã vem a alegria. (1) Estudiosos afirmam que a função evolutiva do choro foi despertar empatia no semelhante e estimular o auxílio em momentos de necessidade. Na verdade, a histórica cooperação entre indivíduos foi e continua sendo essencial para a sobrevivência da espécie humana.

    Sabe-se que o choro libera hormônios e neurotransmissores que aliviam a tristeza e a dor. Especialistas alegam que reprimir o choro significa abafar alguns sentimentos, tornando mais difícil lidar com eles. Em face disso, médicos e psicólogos recomendam chorar para liberar as emoções. O choro amiúde constitui o acesso nas essências mais profundas dos sentimentos. É quando não se domina a amargura e ela necessita ser vazada, exposta, nem que seja solitariamente.

    As lágrimas são um mecanismo de defesa do organismo para liberar o stress e auxiliar no reequilíbrio das emoções. O choro alivia a angústia e pode nos levar a submersões mais intensas, quando oferecemos um sentido para as lágrimas, para aquela dor vivida no presente.

    Todavia, são urgentes alguns alertas! O choro pode ser um episódio ligeiro de tristeza, mas também pode ser um transtorno psicológico depressivo. A tristeza é um estado emocional transitório e comum, uma reação psicológica circunstancial. Entretanto, a depressão, ao contrário da tristeza, não é algo efêmero. Uma pessoa deprimida padece de condição emocional crônica sob as chibatas da ansiedade mental prolongada.

    Meditando a questão do choro, observamos que ele foi sublime em Jesus. Como registrou o evangelista afirmando que à frente de Lázaro “morto”, o Cristo chorou. O excelso Galileu “também chorou lamentando a incompreensão dos homens sentado em uma das grandes raízes de uma árvore no fundo do quintal da casa de Pedro".(2) Jesus chorou no Getsêmani, quando sozinho, todavia, em Jerusalém, sob o peso da cruz, rogou às mulheres generosas a cessação das lágrimas. Na alvorada da Ressurreição, questionou Madalena a razão do seu choro junto ao sepulcro.

    Conta o Espírito Hilário Silva no livro “A Vida Escreve” uma metáfora em que Eurípedes Barsanulfo teria indagado ao Mestre: “Senhor, por que choras?”. Jesus não respondeu. O nobre filho de Sacramento reiterou: “Choras pelos descrentes do mundo?” E após um instante de atenção, Jesus respondeu em voz dulcíssima: “Não, meu filho, não sofro pelos descrentes aos quais devemos amor. Choro por todos os que conhecem o Evangelho, mas não o praticam”.(3)

    Sabendo que o choro pode significar abrigo de alívio, consintamos que ele advenha, para benefício daquele que chora. Apenas expressemos compaixão. Abriguemos os que choram, dizendo-lhe frases do tipo: “Conte comigo”, “estou ao seu lado”, “compreendo e respeito sua agonia”, “confie e espere’, ‘tudo passa”, sempre sussurrando-lhe Jesus aos ouvidos: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.” (4)

     

    Referências bibliográficas:

    1             Salmo 30:5

    2             FRANCO, Divaldo. Primícias Do Reino Ditado pelo Espírito Amélia Rodrigues, Salvador: Editora, LEAL 2015

    3             XAVIER, Francisco, VIEIRA, Waldo. A Vida Escreve, pelo Espírito Hilário Silva, ed. FEB, 1998

    4             Mateus 5:4

    12 de ago. de 2020

    Em torno da sexualidade

     Em torno da sexualidade


    Jorge Hessen

    jorgehessen@gmail.com

    Brasília - DF

     

    A arremetida teórica sobre a sexualidade humana é profundamente complexa. A aberração da prática sexual, quando somente visa a satisfação egoística , imediata e desvairada, cede lugar a patologias graves que rebaixam o ser humano. Há espíritos que ainda não conseguiram superar as viciações sexuais que trazem do passado e que entorpecem a consciência. Há casos obsessivos gravíssimos, conquanto incomum, em que a mulher insaciável coaja (“estupre”) o homem na área sexual.

    Perante as leis humanas e de civilidade é preciso manter a observância às normas e regras, que nos diferem dos seres irracionais. Ora, do ponto de vista biológico, a sexualidade é uma sublime seiva para manter a vida em padrões de estabilização e de encanto, proporcionando, quando o seu uso é ético e equilibrado, contentamento e completude nos relacionamentos. Somos impregnados desse potencial sexual e convocados a aprender a discipliná-lo.

    A sexualidade não pode ser avaliada sob o prisma dos que a consideram impura e proibitiva, muito menos sob as impressões dos que anseiam algemá-la ao plano da banalidade como simples fricção de células causadoras de clímax orgástico. A sexualidade humana é de procedência divina e sua possante energia, que alastra naturalmente no ser, não deve ser tratada de forma insana, todavia urge ser disciplinada no sentido de atingir seu desígnio, como força fecunda e criadora, a fim de produzir o avanço espiritual do homem.

    Quando um casal se ama, os parceiros se apetecem e se reverenciam. A vida e experiência sexual entre ambos é respeitosa e prazerosa. O amor entre os dois não está condicionado apenas à sexualidade, todavia vai muito mais além, incluindo amizade, companheirismo e cuidado pela satisfação de suas necessidades. Quando, porém, isso não ocorre e há a necessidade compulsiva de sexo de um ou ambos companheiros, esse casal não está em harmonia; encontra-se psicologicamente corrompido e não é feliz.

    Naturalmente precisamos exercer a indulgência para com aqueles que são servos da sexolatria, compreendendo que cada ser é um ente divino em suas potencialidades de amor que eclodirão no futuro, até porque esses atrasos morais são particularidades do estágio de expiação e provas do homem terreno.

    É urgente orar e orientar aqueles que nos solicitam auxílio, demostrando as implicações infelizes do sexo em desatino e conforme nos advertem os Benfeitores do além,  diante de toda e qualquer desarmonia do mundo afetivo, seja com quem for e como for, coloquemo-nos, em pensamento, no lugar dos desajustados, analisando as nossas tendências mais íntimas e, após verificarmos se estamos em condições de censurar alguém, escutemos no âmago da consciência, o apelo inolvidável do Cristo: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.

     

    10 de ago. de 2020

    Cuidemos do nosso habitat planetário

    Cuidemos do nosso habitat planetário

    Jorge Hessen

    jorgehessen@gmail.com

    Brasília - DF

    Inobstante não tenha sido esta a primeira vez na história, certamente não será a derradeira, em que a vida da população jaz ameaçada por devastadora pandemia. Há uma estreita analogia entre ação humana no orbe e o advento de patologias pandêmicas, considerando a desrespeitosa indiferença pelo habitat (meio ambiente).

    O formato de perseguir riqueza e poder sem se importar com as consequências, levou o planeta "à beira do abismo". É urgente revigorarmos o orbe no campo da responsabilidade individual, desacelerando o bestial consumismo, onde se tem priorizado mais o ter (transitório) do que o ser (permanente). É mister ajuizarmos que o planeta é compartilhado e cada um tem que fazer a sua parte para mantê-lo em boas condições de habitabilidade.

    Cada governante deve adotar políticas para o bem comum. Os empresários podem coadunar a busca natural pelo lucro com a justiça social. Dá para pensar em distribuir esses ganhos entre os que movem a organização, que são as pessoas. É preciso buscar um acordo, uma boa convivência planetária. Um conglomerado de líderes e governantes nacionais que se reúnam pelo bem do planeta, deixando de priorizar somente o lucro e o poder para o reinado do materialismo.

    O planeta está seriamente enfermo, jaz em avançado e abatido estágio de imoralidades, por isso é necessária a intervenção da Providência Divina para que a ruína moral não avassale mais intensamente a harmonia do todo reinante perante a beleza natural.

    O ecossistema, como um todo, tem trabalhado com hercúleo esforço para se desatrelar do guante deletério daqueles que abusam dos recursos naturais. Os laboratórios donde deveriam nascer os recursos para o bem estar e saúde da população têm sido núcleos calamitosos de manejos técnicos para desenvolvimento de mortíferas substâncias biológicas em nome da guerra.

    Allan Kardec, nos trouxe oportunas reflexões, através dos espíritos, sobre as relações entre os seres vivos e o habitat e o quanto um depende do outro. O homem começa a perceber, hoje, em face dos alardes sobre o avanço da degradação do planeta, que não há como haver uma produção ilimitada deles na biosfera, que é finita e limitada.

    Em uma sociedade de consumo, como a nossa, nenhum de nós se contenta apenas com o necessário. Cada um de nós é responsável por tudo isso que está aí. O meio ambiente somos nós, o meio que nos cerca e as relações que estabelecemos com ele. A boa convivência planetária transcende ao gueto da fauna, flora e preservação. É muito mais que isso.

    Na verdade, quando o planeta adoece, nosso projeto evolutivo fica comprometido. Não é possível esperar a chegada do mundo de regeneração indiferentes à tanta degradação. Pelos mecanismos da reencarnação, se ainda quisermos encontrar aqui estoques razoáveis de água potável, ar puro, terra fértil, menos lixo e um clima estável, sem os flagelos previstos pela queima crescente de petróleo, gás e carvão que agravam o efeito estufa, deveremos agir agora, sem perda de tempo.

    Cremos que após a atual pandemia, advirão outros paradigmas comportamentais da humanidade, considerando que as novas gerações que estão chegando têm o firme compromisso de estabilizar o equilíbrio na dinâmica da vida planetária, considerando o momento de regeneração.

     

    25 de jul. de 2020

    Preconceitos alienantes

    Preconceitos alienantes

    Jorge Hessen
    Brasília - DF

    A absurda morte do afro-americano George Floyd, de 46 anos, assassinado recentemente durante uma abordagem violenta de um policial branco nos Estados Unidos, desencadeou uma onda de protestos antirracistas e acendeu um debate de proporções internacionais. Do outro lado do mundo o nigeriano Samuel Lawrance , um engenheiro bem-sucedido que vive em Tóquio há mais de 15 anos, carrega uma história de quem enfrentou a escola japonesa, a universidade e o preconceito para conquistar um espaço. Afirma que há um racismo "passivo-agressivo" na sociedade japonesa. [1]
    É impressionante que, em pleno século 21, nos encontremos com pessoas “irracionais” que ainda alimentam seus preconceitos nos pastos das discriminações raciais. O ponto de partida costuma ser o estereótipo, segundo a psicologia social, ou seja, uma ideia, conceito ou modelo que se estabelece como padrão. É cultivado quando uma imagem de determinadas pessoas, coisas ou situações são preconcebidas, definindo e limitando pessoas ou grupos de pessoas na sociedade.
    A beleza da vida está no fato de todos sermos iguais em essência e desiguais, em virtudes e filhos de um mesmo PAI. Compete-nos, pois, abrir o coração e a mente para harmonizar esse mundo novo de vivências altruístas e alteritárias. Com a Mensagem de Jesus compreendemos que na Terra há uma só raça: a raça humana.
    Caucasianos, africanos, indianos, árabes, judeus, asiáticos, não são de diferentes raças, são apenas de diferentes etnias, no esplêndido reino dos seres racionais. Na reencarnação desaparecem os preconceitos de raças e de castas, pois o mesmo Espírito pode tornar a nascer rico ou pobre, capitalista ou proletário, chefe ou subordinado, livre ou escravo, homem ou mulher. Se, pois, a reencarnação funda numa lei da Natureza, o princípio da fraternidade universal também funda na mesma lei o da igualdade dos direitos sociais e, por conseguinte, o da liberdade. (2)
    O Espiritismo é uma doutrina libertária e não compactua, sob quaisquer pretextos, com nenhuma ideologia que vise à discriminação étnica entre os grupos sociais. Nos grandes debates de cunho sociológico, antropológico, filosófico, psicológico etc., o Espiritismo provocará a maior revolução histórica no pensamento humano, conforme está inscrito nas questões 798 e 799 de O Livro dos Espíritos, sobretudo quando a Doutrina dos Espíritos ocupar o lugar que lhe é devido na cultura e conhecimento humanos, pois seus preceitos morais advertirão os homens da urgente solidariedade que os há de unir como irmãos, apontando, por sua vez, que o progresso intelecto-moral na vida de todos os Espíritos é lei universal e tendo por modelo Jesus, que, ante os olhos do homem, é o maior modelo da perfeição que um Espírito pode alcançar. (3)

    Referências bibliográficas:
    [2]           KARDEC, Allan. A Gênese, Rio de Janeiro: Editora FEB, 2002, pág. 31
    [3]          KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Editora FEB, 2003, parte 3ª, q. 798 e 799, cap. VIII item VI - Influência do Espiritismo no Progresso.


    3 de jul. de 2020

    Joana D’Arc, um ícone francês


    Joana D’Arc, um  ícone francês



    Joana D'Arc

    Jorge Hessen

    Brasília - DF


    Estudamos em Leon Denis que Joana D’Arc foi filha de pobres lavradores. Aprendeu a fiar a lã junto com sua mãe e guardava o rebanho de ovelhas. Teve três irmãos e uma irmã. Era analfabeta, pois cedo o trabalho lhe absorveu as horas. A aldeia era bastante afastada e os rumores da guerra demoravam a chegar ao local. Finalmente, um dia, Joana tomou contato com os horrores da guerra, quando as tropas inglesas se aproximaram e toda a família precisou fugir e se esconder.
    Aos 12 anos começou a ter visões. Era um dia de verão, ao meio-dia, Joana orava no jardim próximo à sua casa, quando escutou uma voz que lhe dizia para ter confiança no Senhor. [1]A figura que ela divisou, identificou como sendo a do arcanjo São Miguel. Duas mensageiras espirituais a acompanhavam (Catarina e Margarida), “santas” conforme a Igreja que ela frequentava.  Aos 17 anos de idade, Joana, doce e amável, parte para sua missão acompanhada de seu tio Durand Laxart e se apresenta ao comandante, falando da sua missão em nome das vozes que a conduziam, daí em diante surgem grandes obstáculos em sua vida até a libertação da França, quando a virgem de Lorena contava apenas 19 anos.
    Logo após o final da guerra Joana é presa pelas forças inglesas e supliciada até a morte na fogueira, condenada como bruxa, feiticeira e herege pela Santa Inquisição. Finalmente, a 30 de maio de 1431, a maior heroína da França é queimada em praça pública. No dia de sua morte, não havia, pois, somente inimigos que a declaravam apóstata, idólatra, impudica, ou amigos fiéis que a veneravam como uma santa. Havia também ingratos que a esqueciam, sem falar dos indiferentes, que não se preocupavam com ela, e gente esperta que se gabava de jamais ter acreditado em sua missão, ou de nela ter pouco acreditado. [2]
    Em seu caráter admirável se fundem as qualidades aparentemente mais contraditórias: força e doçura, energia e ternura, previdência, sagacidade, mente viva, engenhosa e penetrante, capaz de, em poucas palavras claras e precisas, resolver as questões mais difíceis e as situações mais ambíguas. Seu ar angelical reflete: ingenuidade e sabedoria, humildade e altivez, ardor viril, angelitude e pureza e, acima de tudo, infinita bondade. Todas as virtudes a adornavam. Ela foi um rastro de luz a iluminar a terrível noite da Idade Média. [3]
    Quatro séculos mais tarde, em Paris, O Espírito Joana D’Arc dirigiu e mediunidade da jovem Ermance Dufaux que ainda contava com seus 14 anos de idade quando psicografou a obra “História de Joana D'Arc, ditada por ela própria”. Destaque-se que das 300 obras queimadas em praça pública no Auto de fé de Barcelona, constava alguns volumes dessa obra psicografada por Ermance.
    No capítulo XXXI de O livro dos médiuns, vindo a lume no ano de 1861, quando o Codificador reúne Dissertações Espíritas, confere à de Joana D'Arc o número 12, onde ela se dirige aos médiuns, em especial, concitando-os ao exercício do mediunato. Recomenda-lhes, ainda, que confiem em seu anjo guardião e que lutem contra o escolho da mediunidade que é o orgulho. Conselhos que ela, em sua vida terrena , na qualidade de médium, muito bem seguira.
    “O Papa Calixto III, em 1456, por uma comissão eclesiástica, fez pronunciar a reabilitação de Joana e foi declarado, por uma sentença solene, que Joana morreu mártir para a defesa de sua religião, de sua pátria e de seu rei. O Papa quis mesmo canonizá-la, mas sua coragem não foi tão longe. [4] A Igreja, arrependida do grave erro cometido pela Inquisição, buscou reabilitá-la e a beatificou em 24 de abril de 1909, na Catedral de São Pedro, no Vaticano, em Roma, com enorme pompa, sob a direção do papa Pio X, diante de mais de 30.000 pessoas presentes. Em 1920 foi canonizada, recebendo o título de “santa”.
    Joana d’Arc não é um problema nem um mistério para os espíritas. É um modelo eminente de quase todas as faculdades mediúnicas, cujos efeitos, como uma porção de outros fenômenos, se explicam pelos princípios da doutrina, sem que haja necessidade de lhes buscar a causa no sobrenatural. Ela é a brilhante confirmação do Espiritismo, do qual foi um dos mais eminentes precursores, não por seus ensinamentos, mas pelos fatos, tanto quanto por suas virtudes, que nela denotam um Espírito superior.[5]
    “Não há muitos personagens históricos que tenham estado, mais que Joana d’Arc, expostos à contradição dos contemporâneos e da posterioridade. Não há nenhum, entretanto, cuja vida seja mais simples nem melhor conhecida.” [6] Temos que aprender com esses Espíritos a desenvolver em nosso caráter a disciplina, a seriedade e o planejamento organizado, que são virtudes a serem conquistadas por todos os Espíritos que ainda não as possuem, ao longo das reencarnações.

    Referências bibliográficas:
    [1]           DENIS Leon. Joana D’Arc médium, RJ: Ed. FEB, 1971
    [2]           KARDEC, Allan. Revista Espírita, dezembro de 1867,  Jeanne d'Arc e seus comentadores             
    [3]           DENIS Leon. Joana D’Arc médium, RJ: Ed. FEB, 1971
    [4]           KARDEC, Allan. Revista Espírita, dezembro de 1867,  Jeanne d'Arc e seus comentadores
    [5]           Idem  



    [6]           Trecho do artigo é extraído do Propegateur de Lille, de 17 de agosto de 1867 e publicado na Revista Espírita 1867 dezembro » Jeanne d'Arc e seus comentadores

    19 de jun. de 2020

    A lição de Jesus fulge como um Sol sem crepúsculo (Jorge Hessen)

    lição de Jesus fulge como um Sol sem crepúsculo (Jorge Hessen)

    Jorge Hessen
    Brasília - DF


    Nos tempo apostólicos, o historiador judeu Flávio Josefo fez pequenina referência a Jesus no livro de sua autoria ”Antiguidades Judaicas”. Vejamos: "Hanan [sumo sacerdote] reúne o Sinedrim [Sinédrio] em conselho judiciário e faz comparecer perante ele o irmão de Jesus cognominado Cristo [Tiago era o nome dele] com alguns outros". Mais adiante, Josefo registra : "Foi naquele tempo [de Pilatos] que apareceu Jesus, homem sábio, se é que, falando dele, podemos usar este termo -- homem. Pois ele fez coisas maravilhosas, e, para os que aceitam a verdade com prazer, foi um mestre. Atraiu a si muitos judeus, e também muitos gregos. Foi ele o Messias esperado (...)"(1)
    Tácito, historiador romano (contemporâneo dos apóstolos) igualmente menciona Jesus. "Para destruir o boato (que o acusava do incêndio de Roma), Nero supôs culpados e infringiu tormentos requintadíssimos àqueles cujas abominações os faziam detestar, e a quem a multidão chamava cristãos. Este nome lhes vem de Cristo, que, sob o principado de Tibério, o procurador Pôncio Pilatos entregara ao suplício.” (2)
    Ainda topamos com escritor Suetônio contando que o imperador Cláudio "expulsou os judeus de Roma, tornados sob o impulso de Chrestos, uma causa de desordem" e acrescenta: "Os cristãos, espécie de gente dada a uma superstição nova e perigosa, foram destinados ao suplício".(3)  Outro historiador da época  foi Plínio, conhecido como “o Moço”, em carta ao imperador Trajano, pede instrução a respeito dos cristãos, que se reuniam de manhã para cantar louvores a Cristo.(4)  Do mesmo período, trazemos Tertuliano, que escreveu: “Portanto, naqueles dias em que o nome cristão começou a se tornar conhecido no mundo, Tibério, tendo ele mesmo recebido informações sobre a verdade da divindade de Cristo, trouxe a questão perante o Senado, tendo já se decidido a favor de Cristo...”.
    Compulsando os supracitados documentos históricos, o pesquisador Reza Aslan escreveu recentemente a obra “Zelota - A vida e a época de Jesus de Nazaré”, descrevendo Jesus como um homem cheio de convicção, paixão e contradições; e aborda as razões por que a Igreja cristã preferiu promover a imagem de Jesus como um mestre espiritual pacífico em vez do revolucionário politicamente conscientizado que foi. A tese central de Aslan é que Jesus não se assumiu como o Messias e Rei de um reino espiritual, mas sim como um revolucionário que visava a tomada do poder temporal dos romanos. (sic)  Para Aslan, Jesus é o mais bem sucedido e carismático dos profetas e messiânicos que em algum momento daquele período se julgaram o Messias, como Ezequias; Simão da Pereia; Judas, o Galileu; Menahem; Simão, filho de Giora; Simão, filho de Kochba, entre outros. (5)
    Sob o viés da cultura “espírita”, vem se esguichando ideias exóticas com total  deturpação da fidedigna visão espírita de Jesus. Há estouvados que desejam proscrever Jesus do Espiritismo. Alegam que seria injusto que 2/3 da população da Terra que "nunca" ouviram falar do Messias, ficassem "órfãos" de suas lições. Ledo engano, na verdade, durante milênios Jesus enviou seus emissários para instruir povos, raças e civilizações com conhecimentos e princípios da lei natural. Examinando o trajeto histórico das civilizações, identificamos que em todos os tempos houve missionários, fundadores de Religião, filósofos, Espíritos Superiores que aqui encarnaram com a  autorização de Jesus,  a fim de trazerem novos conhecimentos sobre as Leis Divinas ou Naturais com a finalidade de fazer progredir os habitantes da Terra.
    Ou sendo o Jesus “histórico”, ou o “Cristo” da teologia, recordemos que nos tempos áureos do Evangelho o apóstolo Pedro definiu a transcendência de Jesus, revelando que Ele era "o Cristo, o Filho de Deus vivo" (6) . No século XIX o Espírito de Verdade atesta ser Ele "o Condutor e Modelo do Homem" (7). Para Kardec, o célebre pedagogo e gênio de Lyon, o Cristo foi "Espírito superior da ordem mais elevada, Messias, Espírito Puro, Enviado de Deus e, finalmente, Médium de Deus."(8) Não há dúvidas que Jesus foi o Doutrinador Divino e por excelência o "Médico Divino". (9) Por sua vez, Emmanuel o denomina de "Diretor angélico do orbe e Síntese do amor divino". (10)
    Amado por uns, odiado por outros, indiferente para muitos, Jesus deixou ensinamentos singelos, contudo profundos. Ele aplicou a filosofia que difundia, desconcertando os inimigos gratuitos, granjeando apoios do povo e confundindo os restantes. O Mestre foi, é e sempre será, inspiração para os majestosos arranjos literários e sobretudo para obras de arte (música, pintura, teatro, escultura, poesia). Mesmo assim, nenhum vocábulo, fórmula poética, artística, filosófica ou qualquer louvor em Sua memória conseguirá traduzir o que Ele representa para cada um de nós.
    Ele é o caminho, a verdade e a vida. Nenhum de nós irá ao Criador (imo da própria consciência), senão por Ele. Em todos os milhares de volumes dos mais variados livros ditos sagrados, Jesus resumiu em uma única citação, que abrange toda a sabedoria e cultura terrestres – amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
    Diáfano como um cristal era o Seu caráter – e no entanto, Ele continua sendo o maior enigma de todos os séculos. Para alguns religiosos, é entronizado como uma divindade. O motivo pelo qual alguns consideram Jesus um Semideus, é a sua colossal elevação espiritual. Diante Dele, todos ficamos muito diminutos.
    Os mandamentos inesquecíveis de Jesus estão contidos no Sermão do Monte. Nessa belíssima lauda, avaliada por Mahatma Gandhi como a mais pura essência do cristianismo. Gandhi pronunciou que se um cataclismo extinguisse toda a sabedoria humana, com todos os seus livros e bibliotecas, se restasse apenas o Sermão do monte, as gerações futuras teriam nele toda a beleza e sabedoria necessárias para manter a vida.
    A coroa e a cruz representaram o desfecho da obra do Mestre, mas o sacrifício na sua exemplificação se constatou diariamente durante sua passagem pelo Orbe.
    Anunciando as bem-aventuranças à população no monte, não a desvia para a brutalidade, a fim de assaltar o celeiro dos outros.
    Evidenciando as apreensões que o vestiam, diante da renovação do mundo íntimo, não se regozijou em assentar-se no trono dos gabinetes, de onde os generais e os legisladores costumam ditar ordens. Desceu, Ele próprio, ao seio do povo e entendeu-se pessoalmente com os velhos e os doentes, com as mulheres e as crianças.
    A Sua lição fulge como um Sol sem crepúsculo, conduzindo a Humanidade ao Porto da paz!
    Para a maioria dos teólogos, Ele é objeto de estudo, nas letras do Velho e do Novo Testamento, imprimindo novo rumo às interpretações de fé. Para os filósofos, Ele é o centro de polêmicas e cogitações infindáveis. Para os espíritas ajuizados, Jesus foi, é e será sempre a síntese da Ciência, da Filosofia e da divina Moral (tripé do edifício da Terceira Revelação).

    Referências bibliográficas:

    1              JOSEFO Flávio. História dos Hebreus, Antiguidades Judaicas, XVIII, III, 3 , apud Suma Católica contra os sem Deus, dirigida por Ivan Kologrivof. Ed José Olympio, RJ: 1939, p. 254, p. 254 (1, pg. 311 e 3)
    2              TÁCITO. Anais, XV, 44 apud Suma Católica contra os sem Deus, dirigida por Ivan Kologrivof. Ed José Olympio, RJ: 1939, p. 2541 pg. 311; 3
    3              SUETÔNIO. Vida dos doze Césares, n. 25, apud Suma Católica contra os sem Deus, dirigida por Ivan Kologrivof. Ed José Olympio, RJ: 1939, p. 254p. 256-257). (1 pg. 311; 3)
    4              (Epist. lib. X, 96)
    5              ASLAN Reza.  Zelota A vida e a época de Jesus de Nazaré, SP: Ed. Zahar, 2013
    6              Mt 13, 16-17.
    7              KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed. FEB, 2001, pergunta 625
    8              KARDEC, Allan. A Gênese, RJ: Ed. FEB, 1998, XV, item 2
    9              XAVIER, Francisco Cândido. Os Mensageiros, ditado pelo Espírito André Luiz, RJ: Ed FEB, 2000, cap. 27)
    10            XAVIER, Francisco Cândido. Missionário da Luz, ditado pelo Espírito André Luiz, RJ: Ed FEB 2003, cap. 18

    8 de jun. de 2020

    A morte não é senão um vocábulo sem nexo (Jorge Hessen)

    A morte não é senão um vocábulo sem nexo (Jorge Hessen)


    Jorge Hessen
    Brasília – DF

    Sobrevivendo à retórica dos que afirmam em alta voz que a Covid-19 é uma cilada ideológica, reafirmamos que estamos diante de um novo coronavírus que carrega consigo mais interrogações do que certezas, mormente para as pessoas com fatores de risco. Sou pai de uma filhona especial (não é Down), que é uma pérola preciosíssima para nós. Sei que no mundo inteiro há famílias de milhares de filhos especiais (pessoas com síndrome de Down) que estão vivendo dias de angústia pelos enigmas quanto aos efeitos da Covid-19 nos filhos especiais, além de mudanças drásticas no dia a dia de intensas terapias e ensinos por conta do isolamento social.
    É significativa a parcela de pessoas com síndrome de Down que já nasce com comprometimentos no coração, pulmão e sistema imunológico, e que desenvolvem diabetes e obesidade — observando que todas essas condições são fatores de risco para a Covid-19. [1] É verdade! Quaisquer portadores de doenças crônicas como diabetes, hipertensão, asma ou indivíduos acima de 60 anos são os mais propensos a terem complicações fatais.
    Um estudo recém-publicado no British Medical Journal (BMJ) traz novos dados sobre os tais grupos de risco do novo coronavírus. De fato, os idosos estão mais suscetíveis às complicações do Sars-Cov-2 por causa de alterações no sistema imunológico naturais da idade. No caso dos males cardíacos, a circulação prejudicada e a debilidade dos pulmões parecem favorecer a agressividade da infecção. Asma, enfermidades hematológicas, doença renal crônica, imunodepressão (provocada pelo tratamento de condições autoimunes, como o lúpus, ou câncer) e obesidade também estão ligadas às mortes. [2] Todavia, o curioso é que um estudo inédito realizado por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) aponta que mais de 80 milhões de adultos brasileiros estão no grupo de risco para a Covid-19. Aqui em Brasília, “o número alcança 49,2% da população, o equivalente a 1.136.833 pessoas.” [3]
    A grande maioria (84,5%) dos médicos brasileiros considera que o Brasil ainda não atravessou a pior onda do novo coronavírus, como mostra a segunda pesquisa da APM (Associação Paulista de Medicina). Foram entrevistados 2.808 profissionais de todo o país, das redes pública e privada, entre os dias 15 e 25 de maio [de 2020]. Eles responderam a questionário estruturado online, na plataforma Survey Monkey. A grande maioria (75,3%) considera o isolamento social importante, mesmo com as perdas financeiras advindas dele, pois 85,2% relatam queda de renda em razão da pandemia. Cerca de 79,3% dos médicos da linha de frente seguem apreensivos, pessimistas, deprimidos, insatisfeitos e revoltados. Entre os profissionais da linha de frente, 33,7% tiveram pacientes que morreram em razão da doença. [4]
    Dos diferentes debates, todos são unânimes em afirmar que há três coisas para serem praticadas nesta pandemia: o isolamento social, a solidariedade e os testes diagnósticos. Sem solidariedade, não tem isolamento. Sem teste, não adianta fazer isolamento. As pessoas um dia vão ter que sair de casa e, quando saírem, podem se contaminar. Será que a fé espírita pode ser um antídoto contra a Covid-19?
    Cremos que o conhecimento espírita propicia uma força moral que é capaz de nos preservar de muitas doenças, até porque, para o espírita convicto, não deve haver esse temor da morte. Na devastadora pandemia da cólera do século XIX, Allan Kardec expressamente registra que devemos seguir as medidas sanitárias.[5] 
    A calma deve ser exercitada, dominada, a fim de que possamos aproveitar o período de isolamento social imposto pelas circunstâncias da pandemia, na busca da meditação, daquela infrequente viagem interior e do conhecimento de si mesmo, auxiliando na conquista da paz interior. A oração será recurso primordial por nos manter conectados com Deus e com as forças superiores mantenedoras da vida. É urgente darmos a devida importância da higiene para evitar contaminações.
    É mister evitar o medo, que é pior do que o próprio mal pandêmico. E não ignorarmos os primeiros sintomas da doença, que recomendarão medidas específicas. Em 1868, Kardec publicou na RE que “(...) é apavorante pensar em perigos dessa natureza [pandemia], mas, pelo fato de serem necessários (…), é preferível, em vez de esperá-los tremendo, preparar-se para enfrentá-los sem medo, sejam quais forem os seus resultados. Preparai-vos, pois, para tudo, e sejam quais forem a hora e a natureza do perigo, compenetrai-vos desta verdade: A morte não é senão uma palavra vã e não há nenhum sofrimento que as forças humanas não possam dominar.” [6]
    Referências bibliográficas:
    1              Disponível  em https://www.bbc.com/portuguese/geral-52627581)  acesso 21/05/20
    2              Disponível em https://saude.abril.com.br/medicina/coronavirus-novos-dados-sobre-grupos-de-risco/ acesso 23/05/20
    4              Disponível em https://br.yahoo.com/noticias/m%C3%A9dicos-consideram-que-o-pior-154500848.html  em 06 de junho de 2020
    5              KARDEC, Allan. Revista Espírita, novembro de 1865, RJ: Ed Feb 1990
    6              KARDEC, Allan. Revista Espírita, novembro de 1868, RJ: Ed Feb 1990 - mensagem mediúnica recebida na Sociedade de Paris, em 16 de outubro de 1868, sobre a “Epidemia na Ilha Maurícia”


    1 de jun. de 2020

    Para os mexeriqueiros de plantão (Jorge Hessen)

    Para os mexeriqueiros de plantão (Jorge Hessen)



    Jorge Hessen
    Brasília - DF


    Tiago anota em sua epístola “Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Quem fala mal de um irmão, fala mal da lei e julga a lei; e, se tu julgas a lei, já não és observador da lei, mas juiz.”[1] Ora, o fuxico espera a boa-fé para turvar­lhe as águas e inutilizar­lhe esforços justos. O mal não merece o laurel dos avisos sérios. Atribuir­ lhe muita importância nas atividades verbais é alagar-lhe a esfera de atuação.
    Emmanuel adverte que “falar mal” será render homenagem aos instintos inferiores e renunciar ao título de cooperador de Deus para ser crítico de suas obras. A maledicência é um tóxico sutil que pode conduzir o discípulo a imensos disparates. Quem sorva semelhante veneno é, acima de tudo, servo da tolice, mas sabemos, igualmente, que muitos desses tolos estão a um passo de grandes desventuras íntimas. [2]
    Quando se fala mal de algo ou de alguém para um cúmplice e este concorda com o que é dito, ambos por autoengano sentem-se “melhores” e “avigorados”, pois ambos legitimam aquele sentimento ruim, e faz com que “percebam” mais força, e ganhem uma imensa “autoconfiança” para o mal. O filósofo Platão admoestou: “Calarei os maldizentes continuando a viver bem; eis o melhor uso que podemos fazer da maledicência” [3].
    Amaldiçoada e destrutiva é a palavra na boca de quem alista falhas do próximo; tóxico perigoso é a demonstração condenatória a escoar nos beiços de quem fuxica; barro podre, exalando enxofre, é a oscilação desafinada das cordas vocais de quem recrimina; braseiro tenebroso, escondendo a verdade, é a intriga destrutiva. "Ai do mundo por causa dos escândalos, porque é necessário que venham os escândalos, mas, ai daquele homem porque venham os escândalos.”. [4]
    Quem se afirme espírita não pode esquecer que os críticos do comportamento alheio acabam, quase sempre, praticando as mesmas ações recriminadas. Deploramos o clima de invigilância admitida pelas aventuras do entusiasmo desapiedado dos caluniadores, com suas mentes doentias, sempre às voltas com a emissão ardente da fofoca generalizada. Confrades que ficam “felizes” ante as dificuldades e eventuais deslizes do próximo. Assestam a volúpia do fuxico, com acusações infames sobre fatos que ignoram, sempre em direção às aflições e lutas íntimas de pessoas que tentam se erguer de algum desacerto na caminhada.
    Aos mexeriqueiros malévolos e viciados críticos dos erros de conduta do próximo recomendamos a seguinte reflexão: na viagem de mil quilômetros, como dizia Chico Xavier, não nos podemos considerar vitoriosos senão depois de chegarmos à meta almejada, porque nos dez últimos metros, a ponte que nos liga ao ponto de segurança pode estar caída e não atingiremos o local para onde nos dirigimos.
    Finalmente, não esqueçamos que a palavra constrói ou destrói facilmente e, em segundos, estabelece, por vezes, resultados gravíssimos para séculos.

    Referências bibliográficas:
    [1]          Tiago, 4: 11)
    [2]          XAVIER , Francisco Cândido. Fonte Viva , ditado pelo Espirito Emmanuel, RJ: Ed FEB 1990
    [3]          Platão , disponível em http://pensador.uol.com.br/autor/platao/ a cessado em 6/5/2013
    [4]          Mateus 18:7

    21 de mai. de 2020

    Deus é um imenso “inexistir”? (Jorge Hessen)

    Deus é um imenso “inexistir”? (Jorge Hessen)
    Jorge Hessen
    jorgehessen@gmail.com
    Brasília/DF

    Ora, quando refletimos sobre Deus e pensamos nele como “existente”, e ainda quando cremos que ele “existe”, nossa ideia dele não aumenta nem diminui. Científica e filosoficamente, Deus é impossível! Deus é um absurdo! No surto da Reductio ad absurdum, o bispo Anselmo afirmava que “Deus é aquilo maior do que o qual nada pode ser pensado ou o que é tal que não pode ser pensado algo maior.”[1]
    Cada filósofo, cada cientista tem uma visão diferente sobre a possibilidade da “existência” de um “Deus”. Albert Einstein afirmava crer na visão de Deus de acordo com o definido pelo filósofo Baruch Spinoza, na qual tudo e todos fazem parte da composição do Criador. O genial cientista refutava a possibilidade de um Deus individual ou antropomórfico e se definia como agnóstico, ou seja, reconhecia a possibilidade da “existência” de um Deus – por mais difícil que fosse descobrir se isso é verdade ou não. [2]
    Carl Sagan negava ser ateu, porque para ele um ateu é alguém que tem evidências persuasivas de que não existe um Deus Judaico-Católico-Islâmico. Sagan dizia que não era tão sábio, mas ao mesmo tempo não considerava que havia algo próximo a uma evidência adequada para a “existência” de um Deus. O astrofísico americano Neil Degrasse Tyson, o mais ativo divulgador da ciência depois de Carl Sagan, também afirma que não enxerga evidências que corroborem a existência de Deus.[3]
    Stephen Hawking se definia como ateu. Acreditava que o universo era governado pela supremacia das leis da ciência. Para ele, existia uma diferença fundamental entre a religião, que é baseada na autoridade, e a ciência, que é baseada na observação e na razão. A ciência é suprema porque ela funciona, afirmava Hawking.[4]
    Deus “É” imaterial, portanto incriado, porém criou a existência ou essência de tudo, logo, Deus não pode ser a própria criação, ou seja,  não pode “existir”. Deus criou não só um Universo, mas infinitos universos. Nos fenômenos materiais, tudo o que pode ser verificado, o cientista procura encontrar os porquês do existente como possibilidade de ser raciocinado e medido, entretanto, Deus “É” não existente como possibilidade de ser verificado e mensurado.
    É impossível  provar a “existência” de Deus, isso apenas porque sua inexistência é perfeitamente possível. Vale ressaltar aqui que nossa reflexão não é provar a impossibilidade de Deus “existir”, mas apenas a impossibilidade de se demonstrar Sua possível “existência”, até mesmo porque Ele é o Criador da “existência”. Deus “existente” é coisa limitada; o Deus “existente” é um ente restrito; o Deus “existente” é uma concepção da fé da criatura;  o Deus “existente” é uma finitude; o Deus “existente” é adstrito ao pensamento do crente.  Em verdade, Deus tem que SER, e não pode “existir”, até porque tudo o que “existe” é o que d’Ele procede, pois Deus simplesmente “É”. Se Deus “existisse”, teria criado a si mesmo.
    A compreensão de Deus alcançada por uma pessoa é aquela possível em face do seu conhecimento e do conhecimento do seu grupo social. No entendimento do Espiritismo, Deus não se relaciona ao mágico, ao místico, ao divinal, ao sacro, ao infinito, ao absoluto. Deus não é matéria, nem energia: é imaterial. Para Kardec, não é permitido ao homem sondar a natureza íntima de Deus. Se o homem não pode penetrar na essência de Deus, sendo a existência divina dada como premissa, o homem pode chegar pelo raciocínio ao conhecimento dos seus atributos necessários; porque, vendo o que ele não pode ser sem deixar de ser Deus, deduz-se daí o que ele deve ser.
    Sem o conhecimento dos predicados de Deus, seria impossível compreendermos a obra da criação. Deus é a inteligência suprema e soberana. Se a imaginássemos limitada num ponto qualquer, poderíamos conceber outro ser mais inteligente, e assim por diante até ao infinito. [5]
    Deus é eterno, isto é, não teve começo e não terá fim. Se tivesse tido princípio, teria saído do nada. Ora, não sendo coisa alguma, o nada não pode produzir nada. Deus é imutável. Se ele estivesse sujeito a mudanças, as leis que regem o Universo não teriam nenhuma estabilidade. Deus é imaterial, de outro modo, não seria imutável, pois estaria sujeito às transformações da matéria. Deus é todo-poderoso. Se ele não possuísse o poder supremo, poderíamos imaginar um ser mais poderoso e assim por diante, até encontrarmos o ser que nenhum outro pudesse ultrapassar em potência, e então esse outro é que seria Deus. [6]
    Deus é soberanamente justo e bom. Deus não poderia ser ao mesmo tempo bom e mau, porque, não possuindo qualquer dessas duas qualidades no grau supremo, ele não seria Deus. Consequentemente, Ele não poderia deixar de ser ou infinitamente bom ou infinitamente mau; se fosse infinitamente mal, não faria nada de bom; a soberana bondade resulta na soberana justiça.
    Deus é infinitamente perfeito. É impossível concebermos Deus sem o infinito das perfeições. Para que nenhum ser possa ultrapassá-lo, faz-se preciso que ele seja infinito em tudo. Deus é único. Não poderia existir outro Deus, salvo sob a condição de ser igualmente infinito em todas as coisas, visto que, se houvesse entre eles a mais ligeira diferença, um seria inferior ao outro, subordinado ao seu poder, e então não seria Deus.
    Em resumo, Deus não pode ser Deus senão sob a condição de não ser ultrapassado em nada por nenhum outro ser, pois o ser que o superasse no que quer que fosse, ainda que apenas na grossura de um cabelo, é que seria o verdadeiro Deus.  Portanto, Deus é a inteligência suprema e soberana, é único, eterno, imutável, imaterial, todo-poderoso, soberanamente justo e bom, infinito em todas as suas perfeições, e não pode ser de outra forma. Tal é a sustentação sobre a qual repousa o edifício universal. [7]
    Em filosofia, em psicologia, em moral, em religião, só há de verdadeiro o que não se afaste — nem que seja um til — das qualidades essenciais da divindade. A religião perfeita será aquela que não contenha entre seus artigos de fé nenhum que esteja em oposição com aquelas qualidades, em que todos os seus dogmas suportem a prova desse controle, sem sofrer nenhum dano. [8].

    Referências bibliográficas:

    [1]           ANSELMO. Proslogion. Universidade da Beira Interior, Covilhã, 2008.
    [2]           Disponível em https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2016/01/5-reflexoes-de-cientistas-sobre-ateismo-e-agnosticismo.html  acesso em 17 de maio de 2020      
    [3]           Disponível  em https://veja.abril.com.br/ciencia/nao-vejo-evidencias-que-corroborem-a-existencia-de-deus/    acesso 18/05/2020
    [4]           Disponível em https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2016/01/5-reflexoes-de-cientistas-sobre-ateismo-e-agnosticismo.html  acesso em 17 de maio de 2020      
    [5]           KARDEC ,Allan. A Gênese,SP: Ed. Portal Luz Espírita,  2018, item 8 cap. II (versão digital da 1ª edição traduzido por  Louis Neilmoris )
    [6]           Idem
    [7]           Idem
    [8]           Idem

    6 de mai. de 2020

    O bem-estar coletivo é mais importante do que o comportamento individual (Jorge Hessen)

    O bem-estar coletivo é mais importante do que o comportamento individual (Jorge Hessen)

    Jorge Hessen
    jorgehessen@gmail.com
    Brasília




    Há estudiosos que atestam que o SARS-CoV-2 se originou através de processos naturais. Os vírus não são organismos vivos, portanto,  não se pode matá-los com antibióticos, apenas se pode desintegrar sua estrutura com os diversos métodos higiênicos. O SARS-CoV-2 se expande com muita rapidez entre os humanos, por isso o isolamento social tem sido a solução admissível. Apesar de a longa quarentena ocasionar múltiplos efeitos colaterais, com agravos na economia e nos recursos financeiros para países, empresas e pessoas, até agora, esta é a principal medida exequível adotada por quase todos os países do planeta.
    Obviamente, as estratégias de confinamento não afiançam que a pandemia não ocorra em algum lugar, porém desacelera seu processo de expansão, ocasionando uma incidência menos drástica e mais gradual, permitindo que as instituições de saúde garantam o atendimento médico.
    Para o psicólogo e sociólogo Jocelyn Raude, especialista em doenças infecciosas emergentes e professor da Escola de Altos Estudos de Saúde Pública de Rennes, na França, o individualismo e o "otimismo irrealista" em relação aos riscos de contágio dificultaram o confinamento social para a prevenção ao coronavírus em países ocidentais. É verdade, por displicência, tanto na Europa quanto nos EUA, onde as sociedades são bastante individualistas, causou devastadores efeitos diante da Covid-19. Em países da Ásia, o bem-estar coletivo é mais importante do que o comportamento individual. Por exemplo, o uso de máscaras é habitual para proteger os outros quando alguém está contaminado. Isso é algo pouco frequente no Ocidente, enquanto na Ásia é praticamente corriqueiro.
    No Brasil, algumas vezes ocorreram as displicências  das doenças emergentes, decorrentes das diferentes epidemias dos últimos anos. Atualmente, já bastante afetado pelo novo coronavírus, o comportamento dos brasileiros está mudando ante o crescente número de contaminações e óbitos no país.
    Em que pese a estatística, a despeito de tudo e de poucos desajuizados, há os brasileiros "destemidos irrealistas" que não levam a sério a devastadora pandemia, batizando-a de “gripezinha”. (Pasmem!) Uma “gripezinha” que já matou no Brasil mais de 7 mil pessoas em menos de 90 dias.  Uma “gripezinha” que em menos de 90 dias matou quase 60 mil pessoas nos Estados Unidos, portanto, mais do que os 58 mil soldados americanos que morreram no Vietnã durante os 9 anos da guerra.
    Para nós, espíritas, o fato de não se temer a morte não significa que não damos valor à vida física, tanto que Kardec, na RE de 1865, cita categoricamente que devemos seguir as medidas sanitárias, ou seja, o espírita segue as diretrizes e as normas das autoridades públicas, visando prolongar a vida, não por apego, mas por desejo de progredir e ponto!
    É mais do que óbvio que o conhecimento espírita propicia uma força moral capaz de nos preservar de muitas doenças, porquanto essa força moral repercute no corpo físico, inclusive no sistema imunológico. Há diversos estudos que correlacionam o binômio fé/saúde, que não se limita, é claro, apenas na crença espírita.
    Urge aqui refletir na questão solidária em que o bem-estar coletivo é mais importante do que o comportamento individual. A solidarização é o “sentimento de identificação com os problemas de outrem, o que leva as pessoas a se ajudarem mutuamente” (1). Mas, ainda vivemos num ambiente social de ilusões, de sonhos frustrados, de mentes cansadas, numa sociedade de manchas morais, de “mentes vazias” e atoladas nas futilidades modernas, isoladas nas teias do “ego” glacial. Vivemos completamente mergulhados na vida egocêntrica.
    A pandemia que hoje aflige a Humanidade é resultante do orgulho, do egoísmo e da ausência de solidariedade. A eterna preocupação com o próprio bem-estar é a grande fonte geradora de doenças, delírios e paixões desajustantes.
    O Espiritismo ensina aos homens a grande solidariedade que deve uni-los como irmãos. Deste modo, “quando o homem praticar a lei de Deus, terá uma ordem social fundada na justiça e na solidariedade” (2). A recomendação do Cristo “que vos ameis uns aos outros como eu vos amei”(3) assegura-nos o regime da verdadeira solidariedade e garante a confiança e o entendimento recíproco entre os homens.
    Em época de pandemia ou não, a solidariedade na vida social é como o ar para uma aeronave, pois o avião, com toda tecnologia, não voa se não tiver o ar.
    A prática desse sentimento vivifica e fecunda os germens que nele existem em estado latente nos corações humanos. A Terra, local de provação e de exílio, será pacificada por esse fogo sagrado e verá exercido na sua superfície a caridade, a humildade, a paciência, o devotamento, a abnegação, a resignação e o sacrifício, virtudes todas filhas do amor e da solidariedade.

    Referências bibliográficas:
    [1]       Cf. Dicionário Caldas Aulete
    [2]       KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2000, pergunta 799
    [3]       Jo 15.12